Divulgação do texto vencedor do XIV Concurso Literário "Um Conto de Natal".

UCN2021 1


Estrutura: Leonardo Mendo

Data: 29/04/2022


O conto apresentado neste artigo foi-nos afavelmente disponibilizado pela Catarina Ribeiro, aluna do 11.º ano e redatora n'O Rouxinol. Trata-se do concurso de escrita Um Conto de Natal, promovido pelo Agrupamento de Escolas João de Barros, cuja edição deste ano letivo premiou duas alunas da nossa escola: primeiro e segundo lugares. A partilha voluntária do texto vencedor, escrito pela Catarina, pretende inspirar mais alunos a participar neste e noutros concursos de escrita, enriquecer o seu vocabulário e despertar o seu sentido criativo.


A Magia do Natal

Era dezembro, estava frio e o militar Rui Silva lutava nos confrontos que se multiplicavam no Afeganistão. Estava destacado nessa missão há dois anos e, por esse motivo, durante esse período não lhe foi possível passar a época natalícia e a entrada no novo ano junto dos que lhe eram mais próximos, o seu filho adolescente e a sua esposa. Rui mantinha a esperança de lhes ser dada autorização para regressar a casa, de forma a poder passar o Natal com os seus, mas nada indicava que isso fosse acontecer, todos os comunicados que recebiam eram dececionantes.

Do outro lado do oceano, a esposa Diana e o filho António alimentavam essa fé e, apesar de igualmente impacientes por informação oficial, tentavam não transmitir isso a Rui para que se mantivesse concentrado na sua missão. O melhor momento do dia era quando se conseguiam juntar por breves instantes em videochamada para partilharem os momentos do seu dia (tinham combinado que esses momentos seriam apenas para partilhas positivas). Nem todos os dias estas chamadas eram possíveis, também devido à rede que nem sempre era a melhor, mas sempre que o faziam ficavam com o coração mais quentinho, mais alegres e mais tranquilos.

Chegara a antevéspera de Natal. Os superiores comunicavam a todos os soldados que tinham recebido uma nova ameaça de atentado e que seria impossível passar a época festiva com as suas famílias e no seu país. Seriam também restringidas as possibilidades de comunicação com o “mundo exterior” por parte dos soldados, uma vez que estariam em missão, isto é, teriam de estar sempre atentos a qualquer confronto e teriam de manter a sua presença o mais secreta possível para evitarem confrontos ocorridos por sua causa e apenas atuarem quando lhes fosse comunicado e solicitados reforços.

Nesse dia, Rui sentiu a necessidade de informar a família sobre as mais recentes e tristes notícias: a não possibilidade de passar o Natal com os que mais ama. Ficaram os três calados, o ambiente ficou tenso. Seria impossível passar o Natal todos juntos mais uma vez. Como o tempo de contacto também ia ficar reduzido, decidiram que o iam aproveitar da melhor forma. Quando desligaram, ficou no ar a consternação e tristeza e, essa noite, foi uma das mais difíceis daqueles últimos dois anos, tanto para Rui como para a família que deixou em Portugal.

No dia seguinte, logo pela manhã, foi marcada nova reunião dos militares com os seus superiores. Não era costume estas convocatórias de última hora, pelo que reagiram todos com estranheza e apreensão ao motivo daquela reunião e do que dela podia advir. No entanto, ao contrário daquilo que todos pensavam, as notícias eram animadoras e inesperadas: todos os militares poderiam retornar às suas casas na véspera de natal e passar a época festiva com as suas famílias, porque tinham sido retiradas as ameaças de ataques e o país ia finalmente ter alguns momentos pacíficos. A felicidade instalou-se. Muitos militares alertaram as famílias, deixando-as de sobreaviso para a sua chegada, mas Rui decidiu manter o silêncio e aparecer de surpresa para passar a Consoada com a sua mulher, o seu filho e os seus pais, Francelina e José.

As horas foram passando e já era véspera de Natal, a noite mais mágica do ano para muitas famílias. Rui preparava-se para o reencontro tão esperado com os seus, que não tinham notícias suas há mais de um dia e que estavam a estranhar essa demora, mas nada podiam fazer porque sabiam que Rui estaria ocupado e ligaria logo que conseguisse.

Assim, em Portugal, António, Diana e os seus sogros preparavam a sua ceia e pratos natalícios, apreensivos e ao mesmo tempo esperançosos.

Eram 22 horas quando a campainha tocou, a escuridão que se fazia sentir lá fora não permitia ver quem era e Diana abriu a porta cuidadosamente e a medo para verificar quem os viera visitar. Era Rui. O choque inicial não permitiu que tivesse qualquer reação para além de chamar o filho e os sogros e de se abraçar ao seu homem.

A felicidade instalou-se. Passaram o resto da noite a recordar os desafios dos dois últimos anos. Trocaram momentos únicos de partilha, choro, abraços saudosos e beijos que se foram acumulando devido à sua ausência.

Uma mesa recheada de pessoas, recordações e gastronomia típica desta época estendia-se por toda a sala. Estavam ali presentes muitos dos momentos bons e menos bons daqueles dois duros anos, o brilho no olhar de quem não se vê e não se abraça há muito tempo e o bacalhau, o peru, as rabanadas, os sonhos, o leite creme, a aletria e os biscoitos de Natal que todos ajudaram a confecionar e apreciaram nessa noite.

O Pai Natal? Não fazia parte da festa. O importante era estarem todos juntos novamente e estar presente.

Rui revelou ainda à família que ficaria por tempo indeterminado com eles, visto que não tinha missão ou destacamento programado.

Assim, aquele que podia ser mais um Natal, transformou-se no mais bem vivido por esta família. Estava reunida e bem de saúde e só isso importava. O resto, o amor e o tempo tratariam de curar.


Cabe-nos fazer um agradecimento especial à Catarina pela partilha do seu conto e parabenizá-la pelo excelente resultado obtido!


Fontes (Imagens):

Pixabay