A entrevista com Guilherme Catita, Representante dos Alunos no Conselho Geral.
Entrevista e Estrutura: Catarina Ribeiro e Leonardo Mendo
Data: 20/03/2021
Guilherme Catita está no 12º ano, estuda na nossa escola e avançou com a criação de uma lista para concorrer à Associação de Estudantes neste ano letivo. As eleições, porém, acabaram por não se realizar e as próprias listas não chegaram a ser oficializadas. Mais recentemente, foi eleito Representante dos Alunos do Ensino Secundário no Conselho Geral no dia 28 de outubro de 2020. Concorreu pela Lista B, da qual era titular, e acabou por vencer com 155 votos, mais 37 do que a lista adversária.
Esta entrevista teve por volta de uma hora de duração, foi feita em direto na conta de instagram d'O Rouxinol e tu pudeste colocar questões!
Como funciona o Conselho Geral e quem o integra?
«O Conselho Geral é principalmente integrado por membros da direção, representantes dos professores, dos pais, dos funcionários, das freguesias de Paranhos e de Cedofeita e de várias associações à volta da escola. É o «último orgão», a última instância. Tudo o que acontece na escola é decidido no Conselho Geral. «Por exemplo, o plano de atividades anual e o relatório de autoavaliação». Tudo em que a direção da escola não tem a última palavra, é da competência do Conselho Geral. Outro exemplo das suas competências é a eleição do/da diretor/a da escola»
Que papel desempenhas lá?
«Eu fui eleito como o Representante dos Alunos», ou seja, «dentro do Conselho Geral, eu sou o único aluno». O meu papel é tentar, de «maneira mais completa», representar os alunos. «O projeto com o qual me apresentei foi o de dar voz à comunidade estudantil. Eu disse na minha campanha que o meu trabalho ia ser tornado público e esta entrevista serve para isso». Até agora tudo o que passou pelo Conselho Geral foi aprovado por unanimidade, à exceção da eleição da diretora, que mesmo assim esteve perto disso.
Qual foi o teu papel nesta eleição?
«Nesta eleição, tenho um voto igual a todos os outros membros conselheiros. O voto era secreto, mas eu digo que votei na professora Isabel». Foram duas candidatas: a professora Isabel Silva, professora de Educação Física e a professora Amélia Castro, professora de filosofia. Ambas apresentaram projetos, mas «eu acho que o projeto da professora Isabel fazia mais sentido no âmbito da escola». «Não tomei esta opção sozinho porque não conheço pessoalmente a professora Isabel. Perguntei a várias pessoas, antigos alunos do Irene (Irene Lisboa, onde a professora Isabel lecionava) e alunos da nossa escola sobre o que é que achavam da professora» e a impressão foi positiva, na sua generalidade, por isso «mais uma razão para confiar»
Como se processa a tomada de posse do/da diretor/a?
É uma cerimónia onde a diretora vai tomar posse e «eu vou, em representação de todos os alunos da escola. (…) Não sei se, em tempos normais, seria pública, mas sendo ou não sendo, vou estar presente»
Em que projetos da escola é que já te envolveste?
Foram bastantes. «Entre o 5º e o 9º ano participei em todas as Noites da Ciência e da Terra», «participei num Erasmus, no ano passado - o projeto Hercules - em que recebi cá pessoas de vários países e fui à Lituânia», «participei na Big Band, entrei no segundo ano da Big Band e estivemos lá até ao ano passado», sendo que este ano não foi possível participar por causa da pandemia e «outros projetos que não são tanto da comunidade escolar, mas mais individuais, sugeridos pelos professores». «Participei em vários Concursos do Pi» e no Concurso Nacional de Leitura. «No 9º ano cheguei a ir às Olimpíadas da Química» e «às Olimpíadas da Matemática fui a todas (…) (exceto) no 10º (ano) porque não sabia da data». No entanto, «nunca fui dado muito a desporto e nunca participei no desporto escolar», mas «ia a uma ou duas aulas de badmínton de vez em quando». «Quis participar (no clube de teatro) mas nunca tive disponibilidade de horário para o fazer»
Alguma vez participaste no Orçamento Participativo?
«Eu sou de Economia e sei que deveria participar», porém «nunca tive uma ideia nem um grupo de pessoas que me apoiasse numa ideia para avançar». A nossa escola foi renovada há pouco tempo. «Quando entrei no Carlina, no 4º ano, (…) a escola estava nova». O que nos faltava já foi adicionado, os microondas, a mesa dos matraquilhos e os sofás, por exemplo. «Tive uma ideia de uns relógios, sugerida pela minha professora de Economia, mas não quis avançar porque achava que não era viável». Muitas das ideias eram pouco originais e desinteressantes ou iam além do orçamento disponível. O orçamento é alto, os alunos é que têm de ter a criatividade para o utilizar e saber geri-lo bem. «Eu dizia para mim: "porque é que não se guarda isto e se usa para o ano?". Mas não pode ser, o Estado não deixa». Mas era boa a ideia de fazer um «pé de meia» para cobrir eventuais avarias de equipamentos com esses fundos.
Como é estar num ano tão importante como o 12º com aulas online?
«Pessoalmente não gosto das aulas online», mas «compreendo que sejam necessárias». Há pessoas que dizem que gostam porque têm mais tempo para si e para estudar, «mas não gosto de estar em casa» e falta aquela relação com os professores que não existe pelo ecrã do computador. Em casa é fácil distrair-se e abrir o google no telemóvel, desligar a câmera e mesmo dar uma volta à casa em vez de estar atento à aula. Pode haver muita gente que quer estar na aula mas quer separar a casa, sítio de lazer e descanso, da escola, sítio de aprendizagens e trabalho. «Acho que, na generalidade, as pessoas não gostam»
As aulas à distância podem ser um entrave para colocar questões aos professores?
«Não tenho grande base de fundamento», mas presencialmente pode existir uma certa pressão ao levantar o braço e receber olhares dos colegas. Online há sempre a opção de enviar uma mensagem ao professor depois da aula.
Sentes o contacto com os alunos dificultado com a pandemia? E isso afeta-te no exercício da tua função?
«Sim e Não». Agora há a possibilidade de enviar uma mensagem, mas nem sempre as pessoas têm disponibilidade para responder. Outra coisa completamente diferente é cruzar-se com alguém no corredor e tirar dois minutos para responder a alguma dúvida. Por outro lado, «se as pessoas me elegeram, acho que têm mais ou menos uma confiança em mim, uma confiança que me permite por vezes tomar decisões de forma mais independente»
Ensino à distância dificulta a preparação para os exames?
«Depende. No ano passado fiz três exames com ensino à distância». Entretanto o Secundário teve um mês de aulas presenciais e é muito mais fácil aprender presencialmente quando se tem professores mais «cara a cara». «De certeza que quem estuda e trabalha consegue tirar boa nota»
O Ensino à Distância prejudicou-te, estando no último ano?
«A escola não serve só para formar crianças com livros». A escola deve puxar por nós nos níveis intelectuais para que tomemos iniciativa de participar em várias experiências. «A palavra chave é experiências». Não tivemos aquelas sessões especiais, por exemplo as dinamizadas pelo INEM sobre primeiros socorros, mas também sessões de empreendedorismo, palestras e visitas de estudo.
Não seria importante existir também uma representação dos alunos do Ensino Básico no Conselho Geral, sendo este um orgão tão importante?
Por vezes, pessoas do 7º, 8º ou até 9º ano podem ainda não estar aptas a tomar uma decisão tão importante como essa. «As pessoas têm de se rever em quem elegem, como é óbvio», mas o argumento para o Básico não votar nestas eleições para o Conselho Geral talvez seja esse mesmo. Poderá ser um tema para debate.
Como é que achas que será o futuro da escola?
«Eu não sou vidente (…) mas o futuro da escola está nas vossas mãos». Tudo depende dos alunos. Hoje, temos bons alunos, boas infraestruturas e boas iniciativas, «somos uma escola concorrida no Porto. Se a escola continuar a sua via humanista de pôr os alunos em primeiro lugar», pensar em quem são os alunos e como são, sem pensar tanto em «notas, médias e coisas mecanizadas, a nossa escola será única, bastante boa e um orgulho para mim no futuro»
Como achas que a nossa escola se pode aproximar dos alunos?
«Acho que a nossa escola já é bastante próxima dos alunos». Deve haver sempre uma distância saudável entre alunos e professores baseada no respeito mútuo. «Os professores já têm clubes, a biblioteca tem bastante disponibilidade. Não vejo grande maneira de a escola se tornar mais próxima dos alunos». Isso será um «desafio para os novos professores que vierem para a nossa escola»
Uma nota final
«No 1º Período apresentei no Conselho Geral uma proposta, em relação à Associação de Estudantes, sobre uma reformulação da mesma para que passasse a ser uma Assembleia. Uma Assembleia com membros eleitos e que a Associação de Estudantes não fosse o sistema presidencialista que é atualmente, onde se escolhe uma lista e as outras todas, com a sua expressão de voto, são ignoradas». «Ainda não se decidiu se seria eleita por ano ou por turma, seria engraçado que fosse por turma, como a eleição dos delegados, por exemplo»
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